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·Fernando del Cantão·

Diretor de 'Máfia do Apito' Fala Sobre Arbitragem: 'Todos Nós Quebramos Regras'

A arbitragem no futebol está cada vez mais em debate, especialmente com várias reclamações sobre decisões erradas durante os jogos e no VAR. As queixes vão desde as mais calmas até as mais exaltadas, e isso dominou a semana do futebol. O Botafogo, por exemplo, soltou um ofício dizendo que não aceitaria pressão sobre os árbitros na partida contra o Flamengo — mas acaba pressionando os árbitros e a CBF ao mesmo tempo. O São Paulo, por sua vez, pediu a exclusão de Ramon Abatti Abel das suas partidas após o Choque-Rei. E você sabe qual foi a pergunta mais buscada no Google na última semana? "Quais foram os times mais beneficiados pelo VAR?"

Para agregar uma nova visão a esse quadro, a coluna conversou com Bruno Maia, diretor-geral da série "A Máfia do Apito", disponível na Globoplay. Esse projeto retrata um dos maiores escândalos de arbitragem na história do futebol brasileiro. Maia também trabalhou em "Romário, o Cara" e no podcast "Nos Armários dos Vestiários".

Manipulação no Passado: O que Não Vimos?

Quando falamos da época da Máfia do Apito, é impressionante como ninguém percebia indícios claros de manipulação, como mostrado na série. O Edilson Pereira de Carvalho, por exemplo, era considerado um árbitro elogiado. Ele acreditava que dava para combinar resultados sem necessariamente mudar a partida, mas muitas vezes o jogo não acabava como esperado. Com o tempo e o aumento da ganância, ele começou a interferir de maneira subjetiva em alguns lances.

O mais interessante dessa história é que ela reflete o próprio futebol brasileiro, que parece viver em um ambiente de improviso e tolerância com desvios. Até aqueles que estão investigando, muitas vezes, jogam com as suas próprias regras.

Futebol e as Regras do Jogo

O legal da série é que ela vai além da investigação e mostra a complexidade do futebol, com seus valores e personalidades. Essa dissimulação, que às vezes chega a ser criminosa, também revela um certo carisma nos protagonistas. A realidade é que somos mais permissivos com quem se destaca no futebol. Acabamos nutrindo empatia por certas figuras, mesmo que suas ações sejam questionáveis.

Mesmo as autoridades, como o Ministério Público e a Polícia Federal, parecem operar sob suas próprias regras, buscando atingir seus objetivos — seja para uma matéria ou uma ligação telefônica. Essa flexibilidade no sistema existe, embora não se compare a um crime na sua essência.

O Que Está Acontecendo Agora?

E o que será que está rolando atualmente? Bruno acredita que não há um cenário igual ao do passado, mas, como alguém que vive o universo do esporte, vê que o verdadeiro problema é a qualidade da regulamentação das apostas. Na época do Edilson, as apostas eram uma zona cinza, sem comunicação formal com as autoridades. Hoje, as casas de apostas precisam reportar qualquer coisa suspeita, e a investigação começa na hora. Além disso, as suspeitas agora estão mais voltadas para jogadores do que para árbitros — e aí é onde a regulamentação no Brasil precisa melhorar. O foco ainda está muito na arrecadação, em vez de gerenciar as consequências sociais envolvidas.

Como Aumentar a Profissionalização dos Árbitros?

Ao se aprofundar no mundo da arbitragem, Bruno desenvolveu um respeito pela profissionalização desse pessoal. Ele aponta que o caminho é difícil, especialmente em um país onde muitos árbitros enfrentam dificuldades financeiras. É comum ver jogadores fazendo bicos para complementar a renda, já que os salários são baixos e o futuro é incerto.

Árbitros: Vilões ou Vítimas?

Sobre os árbitros serem vilanizados, Bruno tem outra visão. Ele não acredita que eles sejam os únicos a carregar a culpa, embora o sistema esteja tão fragilizado que acaba sendo mais fácil colocar a responsabilidade em apenas uma pessoa. No caso do Edilson, ele realmente confessou crimes que hoje são considerados graves, mas, geralmente, no futebol, há uma tendência de ver apenas os erros alheios.

O Edilson é mais um reflexo de um problema estrutural que permite que pessoas testem os limites do sistema. Ele é responsável, claro, mas devemos também considerar quantas brechas o próprio futebol deixou para que isso acontecesse.

Bruno conclui que não acha os árbitros vilões, mas sim que existe uma conveniência em colocar a culpa em casos isolados. Afinal, essa abordagem nos permite descontar nossa raiva sobre alguém, como se nunca tivéssemos cometido nossos pequenos erros.

Ele acredita que podemos sim aprender com o caso do Edilson e que muitas coisas melhoraram nos últimos 20 anos. Mas isso não resolve tudo. Precisamos continuar trabalhando em comunidade, cada um fazendo o seu melhor, para que as próximas gerações tenham uma experiência de futebol mais justa e responsável.

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Fonte: UOL - Diretor de 'Máfia do Apito' sobre arbitragem: 'Todos burlamos regras'

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