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·Fernando del Cantão·

Flamengo x Palmeiras: O Real-Barça que nos deixou de luto

O vídeo do comediante Magno Navarro no Instagram é uma mistura de risada e tristeza. Com a brincadeira "Meu Time é Meu", ele faz uma crítica ao futebol brasileiro, brincando com a pergunta "que time é teu?" e à realidade absurda que vivemos. Imagine só: torcedores de Fluminense, Vasco e Botafogo estão forçados a torcer pelo Palmeiras contra o Flamengo, enquanto os fãs de Corinthians, São Paulo e Santos têm que bancar os flamenguistas! É uma verdadeira tragédia futebolística.

Tudo mudou e nada mudou

Mas será que essa situação é permanente? Não tão rápido! O futebol brasileiro já passou por várias transformações. Desde a implementação dos pontos corridos, lá se vão 25 anos. E, uns 15 aninhos atrás, a fratura do Clube dos Treze e as negociações individuais dos direitos de TV mudaram ainda mais o jogo. Tem muita coisa envolvida, e não quero ser simplista. Há uma pitada de competência dos administradores de alguns clubes e, por outro lado, a falta de noção de outros.

Neste domingo, Flamengo e Palmeiras se encontrarão em um duelo tratado como final. Depois de viver na Espanha por muitos anos, é a primeira vez que sinto uma vibração parecida com os clássicos Real Madrid x Barcelona. É o jogo que todo mundo está esperando, como um campeonato à parte nos pontos corridos. Tem cobertura a dar com pau: programas pré e pós-jogo, vestiários ao vivo, e até trocas de farpas entre diretores. Preparem os churrascos, porque é dia de Flamengo x Palmeiras!

Só dois jogadores na jogada

Agora, o que me surpreende é como torcedores, jornalistas e até profissionais de outros clubes como Grêmio, Inter, Cruzeiro e Atlético não veem que estão apenas como convidados de última hora nessa festa. Um Gre-Nal, por exemplo, tá se tornando uma espécie de Bétis x Sevilla no futebol nacional. O Brasil, de certa forma, decidiu jogar sua história no lixo ao sufocar os campeonatos estaduais e os times menores.

Entendo que muitos defendam os pontos corridos e a criação de ligas. Eles ficam olhando pra beleza dos campeonatos europeus, achando que isso pode ser repetido aqui, em um país tão grande quanto a própria Europa! Diferente dos estaduais europeus, que fazem parte da própria liga, os nossos campeonatos foram sufocados. E isso resultou na morte do nosso futebol.

Onde estão os talentos?

A ideia era de que uma liga organizada, longe dos problemas da CBF e federações, ajudaria o Brasil a ter clubes tão fortes quanto os europeus. Que ilusão! Os talentos de verdade continuam saindo do país. Por que? Porque muitos desses jovens não conseguem se identificar com os grandes clubes brasileiros. Um menino, como um certo Estevão, é tirado de Minas para jogar no Palmeiras aos 14 anos, pois é lá que ele terá melhores chances de se tornar uma estrela. O resultado? Clubes e empresários ganhando dinheiro, enquanto o menino sai da sua terra natal.

A elitização do futebol brasileiro não afeta só o Brasileirão; isso está acontecendo até nas categorias de base. O que vemos é um verdadeiro "vale tudo" para encontrar meninos de 10, 12, 14 anos, sendo que os que têm mais grana se sobressaem. Clubes grandes estão até se aventurando em caçar talentos na África, já que por aqui tá tudo dominado.

A triste realidade do futebol brasileiro

Os grandes clubes se destacaram porque, ao longo dos anos, foram diferentes dos "pequenos". É o futebol enraizado nas cidades do interior que fez do Brasil uma fábrica de talentos no século passado. Mas, ao que parece, estamos colocando tudo a perder! E depois nos perguntamos por que a seleção brasileira, tanto a principal quanto as de base, não ganham mais nada.

É possível sim criar um calendário onde os grandes joguem entre si e ganhem mais grana, mas o sufocamento do futebol do interior deixa um buraco enorme. Daqui a 50 anos, quando Minas – talvez até Belo Horizonte, escolherem entre Flamengo e Palmeiras ou outro grande de São Paulo – o que sobrirá de Atlético e Cruzeiro? Talvez essa realidade caia a ficha, ou não.

Atualmente, nosso campeonato de pontos corridos prioriza os clubes grandes e trata os pequenos como "chupins". Essa distribuição de grana sem regras provoca um desequilíbrio imenso que nos trouxe a esse cenário de dois gigantes.

Os torcedores dos outros clubes estão em negação. Acham que é só ter um comprador milionário ou uma boa gestão que um São Paulo ou Botafogo pode competir. Mas, a verdade é que nem teremos 4 ou 5 clubes fortes, apenas uma nova versão da tragédia.

Um adeus à rivalidade clássica?

Lembra da vez que Ponte Preta e Guarani foram elogiados como o maior dérbi campineiro da história? Pois é, hoje eles brigam na Série C. E quem ainda torce por esses times? Essa onda de degradação está se espalhando por todo o Brasil. Os celeiros que formam jogadores estão acabando.

Vou assistir Flamengo x Palmeiras, até por conta do meu trabalho. Mas não posso esconder que essa situação é bem triste. Parabéns aos que queriam um Real Madrid e um Barcelona no nosso país. Achavam que teríamos uns 15 times assim, mas, na real, somos só dois mesmo.

Fonte: UOL - Flamengo x Palmeiras: Já temos nosso Real-Barça e isso é uma baita tragédia

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