·Fernando del Cantão·Ex-presidente do Cruzeiro critica a SAFiel: 'É iludir o torcedor'
A polêmica em torno da SAFiel
O ex-presidente do Cruzeiro, Sérgio Santos Rodrigues, não ficou em cima do muro ao comentar sobre o modelo da SAFiel – uma iniciativa que pretende transformar o Corinthians em uma Sociedade Anônima do Futebol, permitindo que torcedores adquiram ações do clube. Recentemente, o projeto foi apresentado aos membros do Conselho Deliberativo do Timão.
Rodrigues, que já foi responsável pela venda da SAF do Cruzeiro ao ex-jogador Ronaldo lá em dezembro de 2021, levantou algumas questões sobre a viabilidade desse novo plano para o Corinthians. Segundo ele, não há segurança financeira para os torcedores que queiram investir na equipe.
A ilusão da participação
Para Sérgio, é um tanto irreal prometer aos torcedores que eles terão um pedaço do seu time. Ele alerta:
"Eu não vislumbro como isso pode dar certo, porque é o que o mercado colocou. Ninguém gasta dinheiro para não ser majoritário, para não tomar decisão."
Uma das maiores preocupações de Rodrigues é que, uma vez que o torcedor adquire uma ação, ele não apenas abraça o sucesso, mas também o fracasso do clube. Se a situação financeira já é complicada, o risco de comprometer o patrimônio dos investidores é bem real.
“Eu jamais recomendaria que alguém gastasse dinheiro, se tornasse sócio de uma empresa, se você não vai poder dar palpite nos rumos dela e ainda pode comprometer seu patrimônio”, explicou.
Cuidado com as armadilhas financeiras
Na visão do ex-dirigente, o cenário é alarmante, especialmente para um clube como o Corinthians, que já enfrenta dívidas enormes. “Esse clube quebrado já tem R$ 2,5 bilhões de débitos. Ele vai entrar com a cota a parte dele também?”, questionou.
Rodrigues também se preocupa com a verdadeira influência que o acionista popular teria no clube. Ele se indaga se os torcedores realmente poderão "comprar sem poder dar palpite efetivo", ressaltando que muitos acabam desinformados acreditando que participarão das decisões.
FIGA e as lições do Atlético-MG
Em meio a toda essa discussão, é impossível não lembrar do FIGA (Fundo de Investimentos do Galo), do Atlético-MG, que tem se assemelhado à proposta da SAFiel, mas que, até o momento, não obteve sucesso.
O Atlético-MG, por sua vez, tomou um caminho diferente: seus donos colocaram uma boa parte do investimento e criaram um fundo onde as cotas foram vendidas a R$ 1 milhão cada. O resultado? Eles mal chegaram perto de atingir a meta de vendas. Rodrigues finaliza pensando na lógica por trás disso:
"Independente do valor, quem é muito rico não vai desperdiçar dinheiro – ninguém fica rico fazendo isso. E quem tem pouco dinheiro, para comprometer o patrimônio com algo assim, precisa entender a repercussão que essa decisão pode ter."
Até janeiro de 2025, o fundo que almejava R$ 100 milhões arrecadou apenas R$ 6,17 milhões, um resultado abaixo de 10% do que era esperado. Isso exigiu a intervenção do acionista majoritário do Atlético-MG, Rubens Menin, que se comprometeu a fornecer o aporte total até o final de 2026, garantindo assim a verba que os torcedores não conseguiram aportar.
Reflexão Final
Esses episódios servem como um alerta para os apaixonados por futebol. Investir em um clube não é apenas uma questão de amor; é preciso ter consciência e informação. Afinal, ninguém quer iludir o torcedor, não é mesmo?
Fonte: UOL - Ex-presidente do Cruzeiro critica modelo da SAFiel: 'É iludir o torcedor'