·Fernando del Cantão·O Dia em que Formei uma Dupla com Meu Amigo Gonzaguinha
É hora de contar uma história daquelas que marcam, que aconteceu entre os dias 23 e 24 de outubro de 1982. E quando falo em misturar futebol, política e música, é porque elas sempre andaram juntas! Não importa o que digam por aí, essas coisas se entrelaçam naturalmente.
Um Sábado Memorável
Tudo começou no sábado, dia 23/10, quando o Corinthians da Democracia Corintiana foi até São José do Rio Preto para enfrentar o time do América no Campeonato Paulista. Mal sabíamos que, no dia 15 de novembro, teríamos as primeiras eleições diretas para governadores e deputados desde o Golpe de 1964. A gente queria, de alguma forma, incentivar a galera a votar, já que havia uma desconfiança gigante, especialmente entre os mais velhos, de que ia ser uma armadilha da Ditadura, com todo mundo sendo observado.
Para isso, decidimos colocar na parte de trás da camisa, logo acima do número, a frase: “DIA 15 VOTE”.
O jogo, que inicialmente seria no domingo às 16h, foi antecipado para o sábado graças ao Edvaldo Pacote, um grande colega do Boni na Globo, que fez de tudo para transmitir a partida ao vivo. Resultado? Todo mundo assistindo ao América x Corinthians e vendo a nossa mensagem impactante.
No fim das contas, o jogo terminou em 3 a 3, com gols de Marinho, Rota e Guilherme (América), além de dois gols meus e um do Ataliba pelo Corinthians. A gente voltou de ônibus e, depois de parar para jantar na estrada, finalmente chegou em casa por volta das 4h da manhã de domingo.
O Evento no Parque São Jorge
Mas não tinha muito tempo para descansar! Às 10h, já estávamos de volta ao Parque São Jorge, prontos para um evento bem legal: um jogo misturando o time da Democracia Corintiana com artistas e atores. Depois, rolaria um churrasco e, mais tarde, um show para arrecadar grana para uma campanha política.
Era uma festa! Todo mundo se trocando no vestiário, e a vibe estava lá em cima. Após o jogo, eu e o meu querido amigo Gonzaguinha saímos devagarinho conversando. Quando entramos no vestiário, estava uma verdadeira multidão, mas aos poucos, só ficou a gente. Acabamos relaxando, tomamos nosso banho e seguimos para o churrasco, que estava do outro lado do clube.
Ah, e no caminho, claro que fizemos uma parada rapidinha no Bar da Torre para tomar umas cervejinhas e continuar a conversa. Era quase 17h30 quando levei o Gonzaguinha para o hotel, porque às 20h ele tinha show no Teatro TUCA (PUC). Eu voltei para casa, me arrumei e fui para o show do Corinthians.
O ginásio estava abarrotado de gente e eu vi vários músicos famosos, como Antônio Marcos, Zé Geraldo, Fagner e Belchior. Os organizadores me chamaram pra apresentar o show e, claro, topei. Com muita empolgação, agradeci a presença de todos, reafirmei a importância da democracia e da votação no dia 15/11, e chamei o primeiro artista: o Raimundo Fagner.
Uma Missão Especial
Ausente do palco, eu estava lá nos bastidores, ajudando a galera, quando os organizadores se aproximaram. “Casão, precisamos de um favor seu.” Fui logo perguntando o que rolava. Eles disseram: “O Gonzaguinha é super importante para o evento, mas ele não quer participar porque envolvimento partidário, e precisamos que você convença ele a vir”.
Pensa só! Eu tinha conhecido o Gonzaga naquele mesmo dia. Mas eles acreditavam que ele gostou de mim porque passou horas conversando comigo. Não pensei duas vezes: fui até o Teatro TUCA.
Cheguei no meio do show do Gonzaguinha e, assim que terminou, fui no camarim. “Fala, Gonzaga!” ele me cumprimentou com aquele sorriso. Expliquei a ele que a galera estava contando com sua presença. E ele: “Pô, Casão, sou pela democracia, mas o evento tem envolvimento partidário, então não vou.”
Não perdi tempo, argumentei: “Gonzaga, esquece isso! O evento é pra incentivar a votação.” E fui pego de surpresa com a resposta dele: “Garoto, você é bem convincente! Tô dentro, mas com uma condição.” “Pode falar!”, respondi curioso. Ele completou: “Só vou se você subir no palco e cantar uma música comigo.”
“Fechou!”, eu disse, já achando que ele nem lembraria disso depois.
A Apresentação Incrível
Quando finalmente subimos no palco, chamei o Wladimir e o Pitta, que estava lá por acaso, e eles toparam na hora. O Magrão disse que ia ficar de espectador e dar nota.
De repente, Gonzaguinha anunciou: “Vou fechar este show com uma música importante, acompanhando meu amigo Casagrande.” E lá fomos nós, fazendo backing vocal e tudo: “Ê sacode a poeira, imbalança, imbalança…!”
O dia 24 de outubro de 1982 foi um dos mais incríveis da minha vida! Imaginem só, eu, um garoto de 19 anos, fazendo amizade com um gênio como o Gonzaguinha e ainda subindo no palco para cantar com ele? Foi pura magia!
E a partir daí, nossa amizade só se fortaleceu. Com o Gonzaga, tive a honra de conhecer seu pai, o Sr. Luiz Gonzaga, mas essa história fica para outra hora!
Fonte: UOL - O dia em que formei uma dupla com o meu genial amigo Gonzaguinha